quarta-feira, 30 de abril de 2008

9) Inicio o debate

Apesar da promessa de atualizações diárias, esta semana as coisas deram a impressão de que se eriçavam das suas letargias somente para pertubar a minha paciência e, por conseqüência, tomar meu tempo. Mas a pausa trouxe um benefício: a reflexão sobre a campanha promovida pelo CNC a respeito dos direitos do público e, principalmente, da Carta de Tabor (presente neste blog, lá embaixo). A leitura dela é fundamental para todos aqueles que se interessam por cineclubismo. Abro um brevíssimo parêntesis, cineclubismo, em minha modesta opinião, é qualquer movimento que congrace pessoas atraídas pelo cinema, pouco importando o matiz que estas pessoas dêem a este movimento. Obviamente, segundo este conceito, as propostas cineclubísticas podem variar de acordo com a vontade de seus criadores e seguir incontáveis espectros - desde que legais, é claro -, sem que nunca, e aqui reside a beleza intrínseca de um cineclube, um caminho exclua o outro. Cineclubismo e maniqueísmo, embora rimem, não combinam em nenhum aspecto. Tome o cineclube Praia Grande por exemplo, quando de seu surgimento nós percebíamos o cineclubismo como reunião de cinéfilos e alternativa ao Cinema do Odylo, formação de platéia e apreciação de obras raras, acréscimo de conhecimentos técnicos e debates quase que essencialmente estéticos. E isso mudou? Definitivamente não. Quem sabe mude um dia, se é que não já esteja mudado. Isso não é o importante, entendem o que eu digo? Aquilo que pensávamos no começo de tudo permanece em carbono bruto, com sua solidez inabalável, mas diamante e lapidação já se fazem visíveis. Disse que iria abrir um breve parêntesis, aliás, brevíssimo, e acabei mentindo. Volto, portanto, à reflexão e à Carta, nela está contida uma matéria revolucionária: a platéia como sujeito de direitos enquanto platéia, podendo se organizar autonomamente para defender seus interesses e tendo por via preferencial de estrutura "administrativa" o cineclube. Não sei se me exlpiquei corretamente. Veja só, a Carta propõe que a platéia tenha direitos independentemente de cada espectador ser, individualmente, um consumidor ou um contribuinte. Ele é também isso, mas no que toca às informações e comunicações audiovisuais, é, antes, espectador, e só por esta condição tem direito a "expressar-se e tornar públicos seus próprios juízos e opiniões", "dispor de estruturas e meios postos à sua disposição pelas instituições públicas", "participar na nomeação de responsáveis pelos organismos público de produção e distribuição de espetáculos, assim como dos meios de informação públicos", "informação correta", ou seja, "pluralidade de opiniões como expressão do respeito aos interesses do público e a seu enriquecimento cultural". É ou não revolucionário? Chega mesmo a ser utópico em certo sentido. Na prática o que temos é um documento produzido em assembléia por um organização internacional (75 países) com mais de 60 anos de existência, a Federação Internacional de Cineclubes (FICC), que luta através de seus afiliados para que esses direitos do público sejam reconhecidos nas mais diversas legislações estatais, e ponto. Mas não parágrafo, muito menos final. A luta é válida porque chama também os autores ao combate, afinal de que vale um filme belíssimo se não há quem o assista? Há exemplos ao redor do planeta de cineastas que se interessam pelos direitos do público sem abrir mão de sua remuneração? Fiquemos então no Brasil, um realizador recebe pela sua obra quando se dá o processo de feitura do filme ou quando ela é distribuída aos cinemas? Você deve estar pensando: "nas duas pontas, né?", já irritado com a pergunta e com o tamanho do post. Encerro-o agora, em tom de confissão. O que quero dizer é, fosse pelas distribuidoras nós seríamos proibidos até de emprestar DVD aos amigos, pois quando compram os direitos autorais querem extrair o máximo de benefício possível pelo maior tempo disponível. O resultado: pérolas esquecidas em estantes sombrias e o público, ah o público que não invente de se reunir em cineclube nenhum senão...


Por Augusto Jr.


P.S.: a questão das locadoras de filmes fica para outro post e, gente, vamos participar!!!!!

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